Hoje acordei com um
sentimento de nostalgia. Um dia cheio de sol, um
gostoso clima que não exige agasalhos ou roupas sumárias para que fiquemos
confortáveis, mas, um estranho vazio na alma.
Ao levantar vejo o Christian
rezando o terço, um hábito intensificado há uns três anos. Olho a beleza da
paisagem ao redor com o sol a despontar por trás do morro à frente da casa.
Talita e Urânia, as duas cadelas que nos guardam durante a noite, deitadas no
gramado. Ao pressentirem a minha aproximação festejam o reencontro matinal com
saltos e lambidas. Seguem direto para o
canil como quem solicita o descanso após o trabalho noturno. Sigo-as, troco água,
estico o cobertor que forra o canil e fecho a porta.
Ando pelo quintal entre os
raios de sol filtrados pela copa das árvores. Vejo o gramado ainda seco, aqui e
ali, ponteado de brotos verdes, após as primeiras chuvas redentoras. Sob as
árvores, ainda muitas folhas secas e as copas matizadas em verde e ocre,
começam a florir.
Volto ao interior da
residência para a primeira refeição. Christian já fazia as torradas. Fiz o chá
de cidreira fresca colhida no quintal. Por recomendação médica ele precisa
evitar a ingestão de leite e café, por conta de uma colite em tratamento. Eu o
acompanho na dieta.
De repente, me vejo
relembrando nossa trajetória de quase trinta anos, e a sucessão das estações a
cada ano. Ao nos conhecermos em outubro de 1987, tivemos um tempo de deixar
cair folhas amareladas, murcha pelos desgastes da vida, para poder restabelecer
forças para reiniciar um novo ciclo. Mas, não era uma vida
plácida. Ele, sempre inquieto, saía a desbravar as redondezas em sua moto e
muitas vezes me preocupava, por não saber seu paradeiro.
Hoje, já com oitenta anos e
as “benditas” dores pelo corpo, está mais quieto. Gosta de ver televisão e
muitas vezes, dorme e acorda ao ver seu filme predileto. Mas, não abre mão de
desempenhar suas atividades: fazer as compras de supermercado, padaria, ligar a
bomba para colocar água nas caixas e alimentar as cadelas.
Com o avanço da idade vamos
aos pouco nos acomodando. Determinados valores vão se diluindo e os projetos
perdem sua importância, tal o verdor das folhas que amarelam no outono e diante
da inevitável aproximação do inverno, caem secas para adubar as flores de uma
nova estação, uma nova vida.
Praia de Mauá, Magé, RJ, 23/09/2016
Benedita Azevedo
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