Este espaço é destinado à publicação de textos em prosa e verso, da autora Benedita Silva de Azevedo.
domingo, 7 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
"Literatura Nacional"
Aluísio Azevedo, um dos patronos da
ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé, mostrava-se bastante
desanimado com a situação da literatura nacional, nesta publicação de 2 de
março de 1892, em “O Combate”. Segundo alguns biógrafos do romancista
maranhense, ele teria deixado de escrever porque exauriu seu repertório. Parece-me que a situação da época
e a necessidade que ele tinha de
sobreviver da sua escrita, o levaram a buscar novos caminhos, diante das dificuldades de
publicação de seus trabalhos. Vejamos o relato que nos deixou neste artigo que transcrevemos abaixo. Não havia possibilidades de alguém, que vivia da venda
de seus livros, sobreviver a uma crise assim.
“Literatura
Nacional
- Agora, sempre que por aí se fala de literatura nacional, diz-se que
ultimamente há grade desfalecimento entre os escritores brasileiros e que
diminui o número de volumes publicados, e que só se escrever sobre finanças e
sobre política.
É exato. Mas a culpa não é dos escritores;
é das dificuldades que se apresentam hoje em dia para realizar a publicação de
qualquer trabalho. A falecida baronesa de Maranguape levou os seus últimos anos
de vida a publicar, na casa Pinheiros, um volume de versos, que nunca veio à
luz e lhe abreviou naturalmente os dias de existência.
Aluísio Azevedo, tem a quase ano e
meio, um volume de contos a publicar-se na casa Mont’Alverne, hoje Companhia
Editora; e, apesar de haver pago
adiantado a primeira folha de
composição, ainda não teve prazer de ver uma página impressa do seu livro;
outros e outros homens de letras queixam-se de iguais contrariedades, e não é
natural que alguém se disponha a escrever com boa vontade, tendo uma obra
encalhada no prelo.
Repetimos: a culpa não é de quem
escreve; a culpa é dos que imprimem. Hoje, no Rio de Janeiro, dar um livro à publicação é
quase tão difícil como viver, ou talvez mais ainda, se atendermos ao que por aí
vai pela tipografias e casas editoras.
É que no Rio de Janeiro, atualmente, ninguém quer trabalhar.
A febre do jogo, criado desde o ministério Ouro- Preto e desenvolvido depois
pela revolução, o desespero de enriquecer forte e rapidamente, o desalento
causado pelos graves prejuízos trazidos pelo descalabro de companhias, que eram
a grande esperança dos ambiciosos; tudo isso transformou a
maior parte da população fluminense num infernal bando de jogatineiros decavés,
doidos, perdidos, furiosos,
desanimados sem vintém e sem ânimo para o mais insignificante trabalho honesto.
Vai-se a uma tipografia para imprimir
uma obra. Aparece-nos o dono da casa, triste, desorientado, pensando nas suas
tantas mil ações sem valor e ouve-nos distraidamente sem conseguir ligar
importância ao trabalho que lhe encomendamos; e, quando lá voltamos, o homem já
nem se lembra do que lhe dissemos a primeira vez.
Mas, se apesar de tudo, a encomenda
fica feita, por um preço paradoxal, e tornamos lá para ver as provas, aí! Que
triste espetáculo nos espera! Cada
tipógrafo é também uma vítima da bolsa; cada tipógrafo tem em casa, inúteis
como um baralho de bilhetes brancos de loteria, uma infinidade de títulos de
companhias arrebentadas.
E, macambúzios, dedos enfiados nos cabelos,
cotovelos enfiados na caixa de composição,
cada desgraçado desses olha
sonambulamente para os tipos empastelados e cobertos de pó, e não encontra em
si coragem para compor um paquet.
Compor! Trabalhar! Para quê?... Para
receber uma soldada que, com os preços atuais do pão, mal chega para não morrer de
fome?... Ganhar 5$000 por dia, quando, se não rebentasse tal companhia ou banco
tal, deveríamos empolgar 300 ou
400 contos?... Não! Definitivamente não há valor de homem capaz de ir até
lá!
E o tipógrafo, convencido de que não
vale a pena trabalhar tão resignadamente para ganhar tão pouco, faz como a maior parte dos
operários, toma o chapéu, e despede-se da casa em que está empregado, e sai de
cabeça baixa e o coração encharcado de desalento; vai pedir dinheiro emprestado a um amigo, ou
empenhar alguma joiazinha da mulher, para correr a roleta, que nada mais é a
caricatura da bolsa; a roleta a última esperança de lucro rápido; a roleta,
donde o infeliz nunca mais voltará ao
trabalho e à dignidade da vida, porque a engrenagem daquela máquina infernal
jamais largou a presa que lhe caiu nos dentes!
E diz
o dono da tipografia, quando o autor vai , à vigésima vez, pelas provas do seu
pobre livro:
- Vê meu caro senhor?... Estou sem
gente!... Os operários foram-se todos!
Estou disposto a pagar o duplo do que pagava dantes,
mas ninguém aparece! E se isso continua assim – fecho a porta!
E a verdade inteira é que este dono de
tipografia está morrendo por fazer como
fez o tipógrafo: correr à roleta! Correr à tavolagem!
E lá, em volta dos malditos trinta e oito números, de 00 a 36, ou à
música implacável do TRENTE ET QUARENTE irá
ele encontrar como em uma praia de desilusão todos esses náufragos da
megalomania, arrojados à casa do jogo pelas ondas do oceano da bolsa.
Todos lá vão ter, desde o assombroso
titular até o magro poeta, que interrompeu os estudos, para meter-se no encilhamento.
Banqueiros, doutores, funcionários públicos, artistas, caixeiros, todos, todos!
Triste e desconsoladora romaria que só tem uma
fé. – ganhar. Só tem uma esperança – levar a banca à glória.Todos e tudo lá vão ter a praia da
tavolagem. Sim, meus senhores, aqueles belos carros, aqueles cavalos de raça,aqueles
diamantes, tudo isso rolará para sempre na areia e, com os tipos da composição
e com as páginas, os poetas e prosadores.”
[Aluísio Azevedo, “O Combate, 2 de março de 1892,
in “ O touro Negro”. pp. 63-66, Rio de Janeiro,
1944]
Transcrição feita no meu livro “Patronos e
Acadêmicos da ACLAM (No prelo).
Benedita
Azevedo – Presidente da ACLAM.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Amor, eu sei
Que
o tempo já se passou
E
marcas em mim deixou,
Mas,
continuo a te amar;
Lado
a lado envelhecemos,
Conseguindo
o que queremos,
Um
no outro se apoiar.
-
Quando
olho teu cabelo
Branquinho,
faço um apelo
Pra
sempre comigo estás;
Num
passo mesmo mais lento
A
caminhar contra o vento
Amar-te-ei,
tu me amarás.
-
E
quando o inverno chegar...
Quero
em ti me aconchegar
Ouvindo
teu coração;
Tuas
mãos em meus cabelos
Sem
quaisquer outros apelos
Ri
ou chorar de emoção.
-
Rio de Janeiro, 28/02/2010
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