Este espaço é destinado à publicação de textos em prosa e verso, da autora Benedita Silva de Azevedo.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Sousândrade na visão de Humberto de Campos
Podemos observar através deste
texto do escritor, Humberto de Campos, que não é de hoje, as dificuldades pelas
quais passam as pessoas que se dedicam a escrever, profissionalmente, e
pretendam viver do que fazem. Lendo as Memórias
inacabadas do escritor memorialista, vejam como conheceu e nos deixou de
herança peculiaridades do grande, Souzandrade:
– Sabe quem é
esse? – Sussurrou a meu lado, Osório Lima.
Eu tinha visto, já, aquele sujeito não sei em que
estampa de uma “História do Brasil”. Seria difícil, todavia, identificar esta
estampa, depois de transformada em carne, osso, colarinho, cabeleira,
sobrecasaca e chapéu de pelo.
– Este é o grande Souzandrade... Dr. Joaquim de Souzandrade...
Tornou Osório, compreendo a ignorância revelada pelo meu silêncio. Depois da
explicação, fiquei como estava antes dela. Eu jamais, na minha vida, ouvira, ou
lera, aquele nome. Os poetas não tinham
me interessado nunca. (...) Ele era, entretanto, uma individualidade curiosa, a
última relíquia do velho Maranhão glorioso, e o remanescente vivo das altas
figuras patrimoniais da velha Atenas agonizante. Surgindo quando a grande
geração se extinguia, abandonou a pátria, e foi no estrangeiro, afinar o
espírito pelo rugido eólico dos ventos novos. Fixou residência nos Estados
Unidos, fez-se, aí, republicano; e, fundando jornais de espírito brasileiro,
repetiu, embora apagadamente, a missão evangélica de Hipólito José da Costa, o
Paulo de Tasso da Independência, que pregava em Corinto o que devia ser ouvido
em Jerusalém. Inteligência investigadora e rebelde imaginou, então, um poema de
proporções vastas, interessando a todo o continente, do qual, publicou um
volume com os primeiros nove cantos, e que se tornou famoso pela bizarria
desconcertante da forma e das ideais. Camilo Castelo Branco, que o considerava
o mais “extremado, mais fantasista e erudito poeta do Brasil” no seu tempo,
achava que o seu poema “pesa e enfara pela demasia dos adubos”. Silvio Homero
apontava-o como o único poeta brasileiro que havia “tomado o faro do século”.
Regressara, porém, para o Maranhão, e lá vivia, por esse tempo, isolado em uma
velha quinta à margem do rio Anil. Cercada de grandes muros, essa propriedade
tornara-se a gaiola enorme de um velho pássaro que não cantava mais. Lá dentro,
à sombra das grandes árvores que rodeavam a casa e se debruçavam sobre o rio, o
autor d’O Guesa e das Harpas Selvagens lia Homero e Virgílio, no original. De
tempos a tempos, vendia alguns metros dos muros da chácara aos construtores,
que aproveitavam o material, de primeira ordem, em novas edificações
urbanas. E isso dava oportunidade ao
velho poeta, que vivia dessas pequenas transações, para uma frase de fina ironia.
- Como vai o senhor, senhor Doutor? Está passando bem?
– perguntavam-lhe.
- E ele, a voz macia, o sorriso inteligente:
- Comendo pedras, meu senhor; comendo pedras...
Souzandrade entrava na mercearia, inclinava a cabeça,
sorridente, num cumprimento a cada um, e, mesmo de pé, fazia a sua pequenina
encomenda delicada: uma lata de espargos, um pouco de queijo, sardinhas de
Nantes, e tâmaras ou ameixas. Sortimento para oito ou dez mil reis, que um
empregado levava à quinta, e que ele, semanas depois, vinha pagar, com as
cédulas miúdas e os níqueis rigorosamente contados. A sua freguesia não dava
lucro. Mas enchia de orgulho a casa”. [Humberto
de Campos, Memórias inacabadas, cap. II, pp 16 – 20]
O maranhense Humberto de
Campos sempre me inspirou. Ao ler seus textos no “Grupo Escolar Gomes de
Sousa”, ainda no primário, ficava matutando... Que também eu poderia escrever
histórias tão bonitas quanto as que ele escreveu. Em 2004, comprei, em um sebo,
seu livro Crítica, 4ª série, onde encontrei a fantástica história de Joaquim Gomes
de Sousa. Em 2009 publiquei-a no Recanto das Letras, por imaginar que assim,
tal qual eu, muitos conterrâneos conheciam superficialmente, a história do
grande cientista brasileiro. O primeiro doutor em matemática da história do
Brasil. Catedrático do Colégio Pedro II, aos 19 anos.
Hoje, estudiosos da Academia
Itapecuruense de Letras, conseguiram resgatar obras, do ilustre conterrâneo, que
se julgavam perdidas.
Desta vez, a surpresa foi seu testemunho quanto à sua
convivência com o grande Souzandrade.
Praia do Anil, Magé – RJ, 15/09/2015
Benedita Azevedo
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
Confraternização anual - BONENKAI
GINKÔ: passeio poético para composição de haicai.
A confraternização anual - onde seria realizado o ginkô pelos componentes do Grêmio Haicai Ipê, aconteceria no Sítio do Bugre, da mestra Teruko Oda, dia 06 de dezembro de 2015, em Cotias – São Paulo. Entretanto, em consequência da obra da SABESP na rua de acesso à residência campestre da família Oda, o Sr. Kenji Takemoto, presidente da Associação Cultural e Educacional Nikkei Bungaku do Brasil, conseguiu com seu amigo, Jorge Hanaoka que o evento fosse realizado eu seu sítio, próximo ao local anteriormente planejado.
A van que nos conduziu de São Paulo à Estrada de Pununduva, estacionou dentro do sítio, logo à entrada. Uma chuva fina umedecia as flores do jardim espalhadas pelos canteiros nos vários ambientes. As nuvens carregadas não impediram de apreciarmos a beleza da paisagem verdejante, em contraponto ao horizonte cinza, logo ao desembarcarmos da condução.
O brilho colorido das várias espécies de flores, indiferentes às gotas que suavemente pousavam nas pétalas das rosas, das dálias, dos lírios africanos, das flores de cosmos, nas helicônias e tantas outras plantas decorativas, nas alamedas, ao entorno da piscina, contornando a casa do caseiro, nos fundos da casa grande...
O grupo da van foi recepcionado pelos companheiros que já se encontravam no sítio. O Sr. Kenji e o Sr. Jorge mostraram aos visitantes as dependências onde aconteceria o evento. No grande salão a mesa do café com iguarias apetitosas estava à disposição dos haicaístas.No passeio poético pelo sítio – o ginkô do Ipê – 2015, composto por poetas com papel e caneta em punho, espalhou-se pelas alamedas arborizadas, cheias de flores e canto de passarinhos. Ao meio dia, na mesa da varanda, os poetas iam se acomodando para a seleção dos haicais compostos durante o passeio. Cada um poderia escolher dois dos muitos realizados.
Ao final tivemos a classificação seguinte:
!º lugar: Teruko Oda
-
Súbito alvoroço –
Pega-pega de andorinhas
no vasto horizonte.
-
2º lugar: Benedita Azevedo
-
As gotas de chuva –
As trombeteiras curvadas
fazem reverência.
ou
As gotas de chuva –
Curvadas as trombeteiras
fazem reverência.
-
3º lugar: Ane Ramos
-
Lá fora flores
No salão animado
Sons do oriente.
-
4º lugar: 2 haicais de Carlos Roberto Bueno
domingo de manhã
no topo das colinas
as araucárias
-
azul da piscina
as sombras dos haicaístas
nas nuvens brancas
-
5º lugar: Cristiane Cardoso
-
Tento acompanhar
Loucos voos das andorinhas –
Ah, essa liberdade
-
6º lugar: com 1 voto cada:
-
Teruko
-
Sinos da memória –
As trombeteiras floridas
sob um céu chuvoso.
-
Benedita
-
Costelas-de-adão
no canteiro lateral –
Canta o bem-te-vi.
-
Maria Fátima
-
As trombeteiras –
À beira do caminho
Louvação do dia.
-
Márcia Marchini
-
Na caminhada
Azul em movimento
Borboleta.
-
Cotias, 06/12/2015
Benedita Silva de Azevedo
Confraternização anual - BONENKAI
GINKÔ: passeio poético para composição de haicai.
A confraternização anual - onde seria realizado o ginkô pelos componentes do Grêmio Haicai Ipê, aconteceria no Sítio do Bugre, da mestra Teruko Oda, dia 06 de dezembro de 2015, em Cotias – São Paulo. Entretanto, em consequência da obra da SABESP na rua de acesso à residência campestre da família Oda, o Sr. Kenji Takemoto, presidente da Associação Cultural e Educacional Nikkei Bungaku do Brasil, conseguiu com seu amigo, Jorge Hanaoka que o evento fosse realizado eu seu sítio, próximo ao local anteriormente planejado.
A van que nos conduziu de São Paulo à Estrada de Pununduva, estacionou dentro do sítio, logo à entrada. Uma chuva fina umedecia as flores do jardim espalhadas pelos canteiros nos vários ambientes. As nuvens carregadas não impediram de apreciarmos a beleza da paisagem verdejante, em contraponto ao horizonte cinza, logo ao desembarcarmos da condução.
O brilho colorido das várias espécies de flores, indiferentes às gotas que suavemente pousavam nas pétalas das rosas, das dálias, dos lírios africanos, das flores de cosmos, nas helicônias e tantas outras plantas decorativas, nas alamedas, ao entorno da piscina, contornando a casa do caseiro, nos fundos da casa grande...
O grupo da van foi recepcionado pelos companheiros que já se encontravam no sítio. O Sr. Kenji e o Sr. Jorge mostraram aos visitantes as dependências onde aconteceria o evento. No grande salão a mesa do café com iguarias apetitosas estava à disposição dos haicaístas.No passeio poético pelo sítio – o ginkô do Ipê – 2015, composto por poetas com papel e caneta em punho, espalhou-se pelas alamedas arborizadas, cheias de flores e canto de passarinhos. Ao meio dia, na mesa da varanda, os poetas iam se acomodando para a seleção dos haicais compostos durante o passeio. Cada um poderia escolher dois dos muitos realizados.
Ao final tivemos a classificação seguinte:
!º lugar: Teruko Oda
-
Súbito alvoroço –
Pega-pega de andorinhas
no vasto horizonte.
-
2º lugar: Benedita Azevedo
-
As gotas de chuva –
As trombeteiras curvadas
fazem reverência.
ou
As gotas de chuva –
Curvadas as trombeteiras
fazem reverência.
-
3º lugar: Ane Ramos
-
Lá fora flores
No salão animado
Sons do oriente.
-
4º lugar: 2 haicais de Carlos Roberto Bueno
domingo de manhã
no topo das colinas
as araucárias
-
azul da piscina
as sombras dos haicaístas
nas nuvens brancas
-
5º lugar: Cristiane Cardoso
-
Tento acompanhar
Loucos voos das andorinhas –
Ah, essa liberdade
-
6º lugar: com 1 voto cada:
-
Teruko
-
Sinos da memória –
As trombeteiras floridas
sob um céu chuvoso.
-
Benedita
-
Costelas-de-adão
no canteiro lateral –
Canta o bem-te-vi.
-
Maria Fátima
-
As trombeteiras –
À beira do caminho
Louvação do dia.
-
Márcia Marchini
-
Na caminhada
Azul em movimento
Borboleta.
-
Cotias, 06/12/2015
Benedita Silva de Azevedo
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